segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Inglourious Basterds (Bastardos Inglorios) - 2009

"Acabei de fazer minha obra-prima". E com esta frase que Quentin Tarantino termina seu mais novo filme, "Bastardos Inglóoios". Seja como for, tal afirmacao empalidece perante o fato de que este e um dos trabalhos mais divertidos do cineasta.
Mesmo sendo um filme que se passa durante a Segunda Guerra Mundial e enfocando o conflito, o longa e uma fabula de acao ambientada durante o periodo do conflito entre os Aliados e as forcas do Eixo.
Tanto e que o primeiro capitulo da fita e intitulado "Era Uma Vez, Numa Franca ocupada pelos Nazistas", ja escancarando que realismo nao vai ser com esta producao.
Sim, primeiro capitulo. Seguindo a tradicao tarantinesca, a pelicula e dividida em capitulos, intercalando segmentos focados em seus nucleos principais.
A trama nos mostra duas trajetorias de vingança (tema recorrente na filmografia do cineasta) que se encontram em um explosivo climax.
De um lado, temos a sofrida Shosanna Dreyfus (Melanie Laurent), uma judia francesa que teve sua familia massacrada durante a ocupacao nazista pelo Coronel Hans Landa (Christoph Waltz). Do outro, esta o grupo de soldados americanos judeus que da titulo ao filme, uma pequena unidade de guerrilha e exterminio do exercito, liderada pelo sulista Tenente Aldo Raine (Brad Pitt).
Adotando uma nova identidade apos a morte de seus parentes, Shosanna se torna dona de um cinema parisiense.
Gracas a paixonite do ascendente soldado alemao Frederick Zoller (Daniel Bruhl) por ela, a grande premiere do ultimo filme panfletario de Goebbels (Sylvester Groth) se dara no cinema da jovem.
Com a presenca de todos os figuroes do partido em um local so – incluindo o proprio Adolf Hitler (Martin Wuttke) – a ocasiao torna-se a oportunidade perfeita para explodir o comando nazista e encerrar a guerra de uma vez por todas, plano tracado pelos Bastardos e pela propria Shosanna, sem um ter conhecimento do outro.
No meio desses dois nucleos, surgem os maiores viloes da cultura pop dos ultimos sessenta anos, os nazistas.
Como se trata de uma fabula, os alemaes nacionais-socialistas nao sao tratados com a mesma densidade que em obras como "A Queda!", pelo contrario.
Salvo excecoes, temos viloes estereotipados e afetados, que devem ser ruins ate os ossos, malignos, preconceituosos… Enfim, a encarnacao de tudo o que e mau neste planeta.
Fica obvio o porque de Tarantino ter realizado este seu epico de guerra com este conflito, afinal este e o ultimo que ainda permite uma leitura maniqueista sem parecer panfletaria.
Desse modo, surge o melhor vilao da historia recente do cinema, o brilhante detetive Coronel Hans Landa.
Vivido com um talento e vontade incriveis pelo ator Christoph Waltz, Landa e um homem extremamente perceptivo, maquiavelico e sem escrupulos.
Nao se trata de um mero soldado, mas de alguem que nao para ate atingir seus objetivos. Conhecido como "O Cacador de Judeus", Landa tem como suas melhores armas uma mente afiada e palavras cuidadosamente escolhidas para deixarem seus inimigos em posicoes psicologicamente debilitadas e propicias para um bote fisico.
Tal habilidade, em um filme de Tarantino, e extremamente relevante. Ora, nas obras do diretor – e esta nao e uma excecao – as palavras agem como balas. Sim, a violencia fisica esta presente no filme (e de maneira bastante grafica), mas sempre como uma consequencia logica da acao dos dialogos.
Este e o diferencial de Quentin Tarantino em relacao a maioria dos outros cineastas. Deste modo, Waltz se qualifica como um verdadeiro achado para o realizador, pois consegue com que os dialogos de Landa soem, ao mesmo tempo, respeitosos, sedutores e extremamente ameacadores.
Alem disso, temos a insercao de um elemento tragico na narrativa, algo que foi experimentado por Tarantino na saga "Kill Bill". Assim como Beatrixx Kiddo, Shosanna Dreyfus e uma mulher que passou por um trauma extremamente forte, colocando-a em uma rota vingadora, com a bela Melanie Laurent imprimindo muito bem o sofrimento da dona de cinema na tela, bem como seu esforco para se manter escondida bem a vista dos nazistas.
Nao e a toa que uma das melhores cenas de "Bastardos Inglorios" e um dialogo entre a jovem e Christoph Waltz. So mesmo Tarantino para transformar o pedido de uma sobremesa em um restaurante em uma das cenas mais tensas do ano.
Os herois Bastardos, eles tambem tem seu espaco. Embora Waltz praticamente roube o filme com seu Coronel Landa, os anti-herois ainda possuem bastante espaco na narrativa.
Brad Pitt diverte o publico como o carismatico Aldo Raine. Com um sotaque sulista hilario, alem de trejeitos expansivos bastante obvios, bem como uma moral bem particular, Raine e o lider perfeito para o seu time de malucos.
Dentro de sua trupe, destaca-se o doentio Donny Donowitz, vivido pelo agora ator Eli Roth, que finalmente encontrou uma valvula de escape para si que nao seja os seus filmes gore.
Ainda vale a pena falar do brutamonte Hugo Stiglitz (Til Schweiger), que ganha para si um parentese na narrativa, bem como do baixinho Utivich (B.J. Novak), que tem um pouco mais de espaco no ato final da projecao.
Tarantino declara mais uma vez seu amor a Setima Arte.
Com tomadas elegantes e um ritmo de edicao maravilhoso, o diretor se da, sim, o direito de ser um tanto quanto auto-referencial e arrogante (vide a frase com que encerra o filme).
Equilibrando diversao e emocao, alem de mandar o espectador para casa com um sorriso meio culpado e muito cartase, "Bastardos Inglorios" pode nao ser a obra-prima de Tarantino, mas e uma das melhores fitas do ano e conta com um dos mais deliciosamente malignos viloes da ultima decada.
Recomendado!

Nota - 10

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