
De tempos em tempos, em espacos esporadicos, surgem obras que marcam o cinema, que traduzem sentimentos e fazem com que voce encare fatos cotidianos com outros olhos.
Uma dessas obras e o genial “Requiem para um Sonho”.
E absolutamente incrivel como esse filme causa impacto e faz com que voce reveja seus conceitos sobre drogas, sejam elas licitas ou ilicitas, palpaveis ou abstratas, visiveis ou psicologicas.
Voce pode me perguntar ‘Mas existem tantos filmes que expressam muito bem o universo de um viciado. O que este tem demais? E eu lhe respondo: ‘Este e O filme sobre drogas e as consequencias que elas acarretam em nossas vidas’.
Todos os personagens sao, acima de tudo, sonhadores.
Sara Goldfarb (Ellen Burstyn) e uma viuva aposentada que passa o dia todo assistindo TV.
Tudo vai indo bem ate que ela recebe um telefonema: do outro lado da linha uma pessoa se identifica como funcionaria do seu programa de TV predileto, o "Tappy Tibbons Show". Sara e entao avisada que ira, em breve, participar do programa.
Entao a viuva coloca um objetivo em sua mente: ira emagrecer para entrar num vestido que usou na formatura de Harry (Jared Leto), seu filho e que agradava tanto seu falecido marido.
Concomitantemente Harry tenta juntar dinheiro para vencer na vida, juntamente com sua namorada Marion (Jennifer Connelly), que sonha em ter uma grife propria e seu amigo Tyrone (Marlon Wayans, sim, o mesmo de “Todo Mundo em Panico”).
Sonhos a parte, o meio que eles escolheram para realiza-los e extremamente arriscado: eles resolvem vender heroina.
Com uma historia dessas o diretor Darren Aronofsky (o mesmo do cultuado “Pi”) criou um filme poderoso, forte, direto e essencial para qualquer jovem que se aventure a viver neste mundo cao.
Nos EUA o filme nao foi entendido.
Em vez dos gringos torna-lo obrigatorio em qualquer campanha antidrogas, eles o taxaram com a classificacao NC-17 (destinado para filmes que so ficam abaixo dos pornos, no quesito ‘destruidor de valores morais e com cenas de sexo’).
Tenho que admitir que nunca um filme me causou tanto impacto, seja pela montagem frenetica, seja pela tendencia crescente ao caos ou pelas interpretacoes viscerais.
E, como todo bom entendido acerca do tratamento que as artes dao sobre as ‘vitimas’ deste assunto, fui assistindo ao filme sabendo que nada ia terminar bem.
Mas nunca, em hipotese alguma, poderia imaginar o nivel de insanidade e de choque que ele outorga para nos.
Dos personagens e, consequentemente, das atuacoes, so tenho elogios a fazer.
Ellen Busrtyn e a minha preferida, a mais cativante e a mais chocante.
Ao vermos o fim de sua historia e impossivel nao se sensibilizar e se perguntar ‘Como foi que essa mulher conseguiu chegar a este ponto?’. Ela e a perfeita projecao da morte e da degradacao humana, corporal e psicologica.
Ja Jared Leto nao fica atras, conhecemos um Harry altamente sonhador, que quer mostrar para sua mae o quao ele pode ser bom e faze-la feliz.
Novamente sua caracterizacao no termino do filme e de deixar qualquer um, desde os mais insensiveis aos que choram ate com inauguracao de supermercado, com um no na garganta.
Os outros dois do quarteto principal tambéem nao deixam a desejar.
Jennifer Connelly e Marlon Wayans elevam ao supra-sumo da perfeicao e da contra-propaganda na arte sobre drogas.
Um dos grandes erros da historia, com certeza, foi cometido com a premiacao do Oscar de Melhor Atriz para a “apenas correta” Julia Roberts, ao inves dele ter sido entregue a Ellen Burstyn.
Mais uma vez o Oscar se mostrou altamente politico e influenciavel pelos egos inflados que habitam por aquelas bandas.
Quanto a trilha, edicao e direcao de arte, o filme e, redundantemente, fenomenal.
A musica que permeia os 102 minutos da pelicula e de uma sensibilidade impar.
Transpassa sentimentos e sensacoes que, sem a execucao da mesma, dificilmente seria captado com tanta poeticidade.
Nervosa em dado momento e sublime em outros, ela deixa de ser apenas um ‘efeito estilistico’ para se tornar um personagem que faz diferenca dentro do longa.
A obra de Aronofsky vive no submundo, no inferno que e a vida de um viciado.
A calma e a tranqüilidade de um dia fatidico vai se degradando a cada frame.
Os sonhos vao sendo desconstruidos, e quando nos damos conta, tudo ja foi por agua abaixo.
Nao adianta mais reclamar.
Nao adianta mais chorar.
A morte, o desespero e a solidao ja se apoderaram de nos.
Triste, muito triste.
Mas tambem, muito verdadeiro e pungente.
Esqueca tudo que voce ja viu sobre a vida fazer sentido, ser justa e que no fim sempre termina bem.
“Requiem para um Sonho” se propoe ser um retrato da nossa sociedade doente e sadica, que cada vez mais e marcada pelo individualismo.
Degradacoes de valores, cenas de sexo, consumo de drogas e sonhos embalados por requiens e o que vemos no filme.
E porque nao, na vida.
Pessimismos a parte, assista a esse filme e fique maravilhado com o que o cinema pode proporcionar a voce, seja homem ou mulher, viciado ou nao, crianca ou adulto.
E, assim como “Dancando no Escuro”, “Dogville” e “Distrito - 9”, este filme fara voce ter uma opiniao formada com a subida dos creditos.
Seja ela contra ou a favor.
E, acredite, voce vai te-la.
Nota:10